4 de outubro de 2013

Pobre livro, vida rica

Tive grande raiva da Escola quando, aos 13 anos, fiz a prova de seleção para a Escola Técnica Federal de Química e não passei. Cheguei chorando em casa, me perguntando do que adiantou tanta nota boa ao longo da minha vida escolar se, diante daquelas questões, minha incapacidade de resolvê-las foi a única coisa avaliada ali. Isso foi resolvido com um cursinho - sem grande nome, mas de enorme qualidade - e mais duas provas, mas no último setembro essa raiva quase veio à tona novamente.

Ouro Preto era um lugar que eu queria conhecer há algum tempo. Meus desejos de conhecer lugares vêm do que vejo na TV. E depois que somos apresentados, quando os vejo na telinha novamente, me sinto parte de lá também. Lá descobri que a atual cidade foi Vila Rica. Lembro desse nome das aulas de história, mas nunca soube que se tornara Ouro Preto. Vou dar um desconto a todas as questões ditatoriais, pessoais, culturais, de formação e de insatisfação dos professores. Já fui uma, vi como é difícil, mas não conheci nossa história através da Escola. “1808”, “1822” e “Confidências de um inconfidente” devem fazer parte da nossa estante, e não aqueles livros didáticos...Sei que devemos seguir a regra do sistema, pois no final todo mundo precisa de um diploma, de uma aprovação. Mas o que nos diferencia e nos torna maduros são as atividades extraclasse. Não realizei essas atividades no tempo devido, mas quando a rotina, as finanças e os compromissos da minha atual vida permitem, compenso esses créditos.
Ouro Preto nunca poderia se chamar Ouro Negro. Negro não tem alma, preto é o negro que se converteu ao catolicismo e aí começou a virar gente. Gente que até hoje muitos não vivem como tal em sua plenitude. Os negros então...

Pedra sobre pedra foram constituindo construções. Estrume, suor, dor e sofrimento davam a liga. Quando dizem que devemos transformar experiências ruins em coisas boas ou depreender luz da escuridão, Ouro Preto nos mostra isso. Considero o que houve ali uma espécie de pré-nazismo – a história se repete, com pequenas variações, fiquemos atentos – mas a beleza da cidade, com todas aquelas Igrejas com a influência do Barroco, toda aquela comida maravilhosa oriunda das senzalas, todo o orgulho e sabedoria dos guias que nos levam a um estado de profunda clarividência e entendimento que culminam em reflexão e aprendizado, nos protegem dessa dor que não deve ser esquecida, porém não necessariamente revivida.


O que dizer sobre religião e fé? Me pareceu estratégia de sobrevivência para uns frente ao impiedoso poder da Coroa com a alcunha da Igreja. Para outros, alívio para suas angústias. As histórias dos Santos são muito interessantes, parece mitologia grega. Críticas também estavam inseridas nesse contexto, mas é preciso perspicácia para percebê-las. E assim, em meio ao passado e ao presente da cidade, minha mala não retornou com topázio imperial nem ouro, mas com uma vivência que nenhum livro pode contar.

10 de janeiro de 2013

Sr., qual é o tom, por favor?



Algo extraordinário aconteceu: em exatamente sete dias devorei 455 páginas de um livro. Não era de Química ou qualquer área afim. E quem me conhece sabe que essa foi uma grande proeza, pois, infelizmente, não sou ávida por leitura...Mas o livro mais badalado de 2012 me engravatou. O livro prende pelos desafios, descobertas e bom-humor entre duas pessoas que teoricamente não tinham nada pra dar certo. E como em arte o belo é relativo e a obra pertence a quem lê, ouve, toca ou tenha qualquer outro sentido despertado, descrevo aqui alguns dos tons despertados nessa minha primeira vez.

Já ouvi comentários sobre o uso de linguagem vulgar, mas penso que está sob medida, é o mínimo que pode acontecer entre um casal. Aliás, esse é outro item omitido nas fábulas do Príncipe Encantado. Como no nosso Universo tudo é possível, penso que existam casais tão educados, contidos e românticos quanto esses das telinhas e telonas, mas com a predominância do machismo e da falta de educação dos homens que vejo por aí, difícil não imaginar que não vai rolar um palavrão...E por isso, mulheres, permitam-se usar essa e outras gravatas - esse livro pode ser de auto-ajuda nesse aspecto.

Homens, utilizar recursos de sadomasoquismo não é a grande questão. Considerem todo o conflito causado nas suas parceiras por conta das suas dificuldades de expressão. O sexo per si é isento de reflexão e consideração - pele, preservativos, suor e gozo. Tomara que vocês, ao decidirem estabelecer uma relação, façam um download de arquivos que versem sobre companheirismo, paciência, respeito e admiração, só para começar. Se vocês conseguirem entender, internalizar e praticar esses conceitos, acreditem, nunca passarão por uma DR. E ainda falando sobre o sado, não achei nada nojento ou aterrorizante. Não entendo da área, mas deve estar no nível mínimo também.

Ao escrever esse texto me senti um pouco Carrie Bradshaw ao final dos episódios. Mas é assim que funciono: reflito sobre tudo o que me é oferecido.