18 de junho de 2009

Show

Ontem presenciei um fenômeno que não sei classificar...Era um homem-violão ou um violão-homem, que não causou a estranheza que normalmente sentimos ao que nos é aberrante. Desde os primórdios, o homem sempre criou e utilizou ferramentas para um propósito bastante definido, mas não sei o que pretendia aquele possuindo um violão. E ele manejava esse instrumento com a habilidade de quem maneja uma peixeira, mas se sentiam os vários cortes dos quais só um canivete suíço é capaz. E desses cortes sangraram lágrimas, coro, gritos, suspiros, dança, carinhos, aplausos, assobios. Não satisfeito, aquele híbrido ainda entoava maravilhosos versos com voz e sotaque que já não ouvimos tanto por aí.


Como um cancão que sabe o momento ímpar de atacar sua presa, aquele híbrido aproveitou-se de uma platéia entorpecida para um momento de conscientização e reflexão. A exploração sem cuidados do Velho Chico, o desperdício de água e a acinzentada previsão de que este elemento pode se tornar motivo de guerra me incomodaram tanto quanto a mochila do meu quase amigo estrangeiro do mercado. Mas como aquele efeito jornalístico de apresentar notícias maravilhosas imediatamente após uma ruim, o Geraldo Azevedo continuou e arrancou o couro até o fim.


PS: Cancão é um pássaro carnívoro do Nordeste. Consegui a informação com o colega Ricardo, típico representante da região aqui no IEN. Bom não é saber tudo, e sim estar cercada de todo o tipo de gente.

16 de junho de 2009

Toda banda larga é inútil se a mente for estreita



Faz mais de dez anos que a rede mundial de computadores e a telefonia móvel vêm servindo como complemento para a existência humana na Terra. E como é interessante trocar ideias, carinhos ou belas paisagens. Como é legal acessar a programação do fim de semana. Sem falar nas letras, cifras e vídeo clips a apenas alguns clicks. Os cartões de final de ano, dia do amigo e dia dos namorados foram animados no melhor estilo Walt Disney, além de ganharem muitos sons. A internet só perde para o olfato e o paladar, ainda que até o sexto sentido aflore naquelas mensagens casualmente presentes nos momentos difíceis. Sim, os elétrons carreiam muita energia.



Em seus primórdios, não sabia muito bem o que fazer com essa ferramenta, não via muita utilidade nisso além de acessar alguns poucos sites e trocar mensagens. Mas o título deste texto foi emprestado de uma propaganda que considero genial. Essa frase me lembrou que nunca acessei uma sala de chat, pois sempre estive cercada de gente pra conversar. Não ficava horas atrelada a nenhum game ou conteúdo pornográfico (acho que por estar com o lazer em dia). Não ficava ligada nas notícias e fofocas veiculadas em tempo real e não compreendo como é impossível viver sem uma second life. E pra mim a internet nunca foi mais importante que a minha própria vida.



Mas há algum tempo, encontrei algum sentido na teia: youtube muito me agrada e no orkut mantenho contato com pessoas distantes geograficamente ou temporalmente, por conta das agendas cujos intervalos de lazer não se encontram nem no infinito. E a minha última mania é blogar. Nunca fui muito de leitura, quiçá de escrever, e agora vejam só. Tá muito divertido!!!

De repente 30


Faz quase seis meses que a década dos 30 começou pra mim. Depois do bombardeio midiático sobre saúde e longevidade, há algum tempo venho seguindo tais conselhos e desfrutando dos resultados obtidos. Sou uma pessoa de carga genética afortunada, admito, reconheço e reafirmo, pois no meu prato sempre abundaram muitos gramas e os mais diversos tipos e níveis de gorduras saturadas e insaturadas que nunca abalaram meu LDL. Sem falar nos beliscos intermediários à base de coxinha de galinha, açaí ou hamburguer na hora do recreio ou aquele croissant antes das aulas da graduação. Mas já ouvi dizer que não é bom abusar da sorte, dar chance pro azar ou moleza para o detetive careca. Também prefiro prevenir a remediar. Também ouvi falar que depois dos 30 uma metamorfose indesejada tem início devido à decadência hormonal desencadeada no corpo humano. Mas as naturezas terrestre e celeste mostram através de vários fenômenos que é necessário alcançar o equilíbrio. E cada um deve alinhar o fiel de sua balança.

Lembro que aos 13 minha preocupação era com o meu futuro imediato como estudante da escola técnica federal de química. Tal sonho se tornou realidade em Nilópolis, dois anos depois, e daquele momento em diante, precisava de dedicação para agarrar meu futuro distante. No filme de título homônimo a este texto, 30 é a idade do sucesso, é quando, o apartamento, o carro, o emprego, as roupas, bolsas, sapatos, badalação e o namorado dos sonhos aparecem. Quase que como uma função de estado, dos 13 se vai aos 30 com a energia requerida para um salto quântico de um elétron que habita um orbital s para a camada de valência, se isto for fisicamente possível, teoricamente dedutível ou experimentalmente reprodutível. Mas adoro esse teen-movie, pois além de divertido me fez pensar nos caminhos que me conduziram para onde estou.
Um dia também desejei como aquela menininha do filme que todas as minhas aflições de pré-adolescente terminassem. Mas desconhecia sobre quântica e segui o roteiro normal. Como a abelha fazendo o mel e a formiga se preparando para o inverno rigoroso, percebo agora que valeu todo o tempo que meus olhos ficaram voltados para a luz fria do quarto sobre um monte de letras, números e farelos de borracha. Este intervalo de construção e preparação desencadearam uma reação onde meus ativos intangíveis como o estudo, os relacionamentos, e o pensamento têm se transformado em puro prazer.

Melhor do que procurar perguntas é desfrutar das respostas. Já não gostava de cigarro desde criança sem saber seus males, nunca fui cliente fervorosa do McDonalds sem saber que ele poderia super size me ou entendia que aquele prazer em ouvir a rádio tropical me aproximaria da cultura do meu país e me faria cantar com amigos. E a televisão até que não me deixou burra muito burra demais, pois as trilhas sonoras, fotografias e figurinos dos filmes da telinha me apresentaram à música clássica, à vegetação, castelos e costumes europeus, casas norte-americanas sem muros e muitas pessoas com cabelos lisos. Não era do tipo que lia, ia ao cinema ou centros culturais por falta de motivação externa e dinheiro. Mas com o tempo vi que tirei algum proveito das imagens reproduzidas em modestas polegadas.

De algum jeito, conforme o filme, cheguei aos 30 sim, curtindo todo o sucesso que esta idade pode oferecer. E meus movimentos não foram friamente calculados, mas sinto que meu big bang apenas está começando.

11 de junho de 2009

Bebida é água, comida é pasto

Comida, comida, comida
Nutritiva cai bem no dia-a-dia
Do tipo frita agrada o guri e a guria
Engordurada faz a alegria da rapaziada,

acompanhada de uma cervejinha
Temperada é dom de dona de casa
Muito elaborada é gourmet, coisa fina
Ausente no prato ou na dispensa, vira anemia, agonia.

Consciência 1


Inspirada pelo par-casal Élika-Nelson, resolvi letrar um acontecimento.

Ontem estava no supermercado e fiquei admirada por observar um senhor alto, de pele bem clara, com roupa social, mochila nas costas, vívido e ágil, para a idade que aparentava. Fiquei pensando, que legal, pois hoje em dia pouco vejo pessoas idosas com tamanha desenvoltura e aspecto saudável. Talvez existam, eu é que não tenho a oportunidade de vê-los por conta da minha rotina enclausurada no carro, trabalho e estudos. Não tenho ciência nem consciência de como anda o ônibus, a rua, as novidades dos camelôs. Pois este senhor brincou comigo, dizendo de maneira muito amistosa e simpática algo do tipo: “_Pensei que você tinha ido pra casa!” Daí sorri amarelo, pois procuro seguir as recomendações de Mazinho sobre atitudes cautelosas com membros da espécie Homo sapiens do gênero masculino. Sou uma pessoa independente em vários sentidos e no trato social tais características podem suscitar interpretações errôneas, por isso, tive que raciocinar no intervalo de nanosegundos como deveria reagir...e o amarelo foi a cor.


Mas percebi pelo sotaque carregado que me deparei com um representante de outro continente que expressava uma brincadeira pela minha momentânea ausência na fila, pois saí para buscar um item sem o qual não haveria sucesso na minha próxima síntese orgânica: ovos para o bolo da Festa Junina de sábado. E fiquei pensando o que um gringo estaria fazendo no Méier...Preconceito cultural meu ou raciocínio estatístico na veia depois de me apaixonar pela estatística? Queria muito perguntar se era do continente ao nosso norte ou a leste do oceano Atlântico, o que fazia por ali, veio a trabalho, de onde veio e entendi que toda essa curiosidade foi despertada pela saudade do meu mês na Alemanha... Vi naquele momento, através daquele sotaque e simpatia uma correlação fugaz com esse período, mas foi o que me veio...E fiquei na dúvida falo-não-falo enquanto o senhor pagava sua conta. Observei que seu português era comunicativo, e que ele ainda não guardara suas compras. Pegou seu troco, conferiu, minhas compras já estavam sendo identificadas pelo sensor vermelho e ele conferia a nota fiscal. As sacolas plásticas disponíveis ficaram lá, e eu estava aguardando o momento em que seriam utilizadas, pois por educação, a vez ainda era a dele. Percebi de repente que suas compras não estavam mais à vista e no intervalo de fentosegundos, pela experiência adquirida na terra da cerveja, concluí com louvor: as compras estão na sua mochila! Fato óbvio, mas após esta conclusão me deprimi superficialmente, pois doeu na consciência a falta de consciência ambiental para uma representante da Ciência. E então fui pra casa e só tive vontade de escrever este texto, sem até o momento ter despertado o desejo de resolver meu conflito ambiental...