Tive grande raiva da Escola
quando, aos 13 anos, fiz a prova de seleção para a Escola Técnica Federal de Química
e não passei. Cheguei chorando em casa, me perguntando do que adiantou tanta
nota boa ao longo da minha vida escolar se, diante daquelas questões, minha
incapacidade de resolvê-las foi a única coisa avaliada ali. Isso foi resolvido
com um cursinho - sem grande nome, mas de enorme qualidade - e mais duas
provas, mas no último setembro essa raiva quase veio à tona novamente.
Ouro Preto era um lugar que eu
queria conhecer há algum tempo. Meus desejos de conhecer lugares vêm do que
vejo na TV. E depois que somos apresentados, quando os vejo na telinha novamente,
me sinto parte de lá também. Lá descobri que a atual cidade foi Vila Rica. Lembro
desse nome das aulas de história, mas nunca soube que se tornara Ouro Preto. Vou
dar um desconto a todas as questões ditatoriais, pessoais, culturais, de
formação e de insatisfação dos professores. Já fui uma, vi como é difícil, mas não
conheci nossa história através da Escola. “1808”, “1822” e “Confidências de um
inconfidente” devem fazer parte da nossa estante, e não aqueles livros
didáticos...Sei que devemos seguir a regra do sistema, pois no final todo mundo
precisa de um diploma, de uma aprovação. Mas o que nos diferencia e nos torna
maduros são as atividades extraclasse. Não realizei essas atividades no tempo
devido, mas quando a rotina, as finanças e os compromissos da minha atual vida
permitem, compenso esses créditos.
Ouro Preto nunca poderia se
chamar Ouro Negro. Negro não tem alma, preto é o negro que se converteu ao
catolicismo e aí começou a virar gente. Gente que até hoje muitos não vivem
como tal em sua plenitude. Os negros então...
Pedra sobre pedra foram constituindo
construções. Estrume, suor, dor e sofrimento davam a liga. Quando dizem que
devemos transformar experiências ruins em coisas boas ou depreender luz da
escuridão, Ouro Preto nos mostra isso. Considero o que houve ali uma espécie de
pré-nazismo – a história se repete, com pequenas variações, fiquemos atentos –
mas a beleza da cidade, com todas aquelas Igrejas com a influência do Barroco,
toda aquela comida maravilhosa oriunda das senzalas, todo o orgulho e sabedoria
dos guias que nos levam a um estado de profunda clarividência e entendimento
que culminam em reflexão e aprendizado, nos protegem dessa dor que não deve ser
esquecida, porém não necessariamente revivida.
O que dizer sobre religião e fé? Me
pareceu estratégia de sobrevivência para uns frente ao impiedoso poder da Coroa
com a alcunha da Igreja. Para outros, alívio para suas angústias. As histórias
dos Santos são muito interessantes, parece mitologia grega. Críticas também
estavam inseridas nesse contexto, mas é preciso perspicácia para percebê-las. E
assim, em meio ao passado e ao presente da cidade, minha mala não retornou com
topázio imperial nem ouro, mas com uma vivência que nenhum livro pode contar.